AS FORMAS ANIMADAS NO MUNDO ESCOLAR
Marcos Marrom da Silva Santana[1]
local de pesquisa: Escola Estadual Profª Vandy de
Castro
teatrodomaleiro@gmail.com
RESUMO
A pesquisa aqui apresentada
trata-se de um estudo direcionado para os aspectos observados durante a
vivência com teatro de bonecos na Escola Estadual de tempo integral profª.Vandy
de Castro situada em
Goiânia. A pesquisa procura descrever de forma analítica, os
processos criativos sob o ponto de vista de observação da reação dos estudantes
mediante as ações no teatro de animação. O teatro de formas animadas é uma arte
que tem se desenvolvido bastante, por isso, a pesquisa está direcionada a essa
prática conhecida, mas pouco explorada ou aprofundada no ambiente escolar. Desta
forma a pesquisa tem seu foco nos resultados das experimentações cênicas
desenvolvidas e vivenciadas com os estudantes de oficina de teatro. São
apontados e avaliados os elementos pertencentes ao universo da tradição desta
arte, dramaturgia, construção, espaço e o público. Por último, são tecidas as
considerações observadas em relação ao aprendizado resultante da prática do
teatro de formas animadas, levando em consideração as técnicas de manipulação e
produção de objetos cênicos.
PALAVRAS –CHAVE: Teatro de
Bonecos - formas animadas – escola - professores.
“O homem está no menino, só que ele não sabe”.
O menino está no homem, só que ele esqueceu.”
Ziraldo
No
presente artigo faço uma abordagem de minha prática como professor de teatro na
Escola Estadual Profª Vandy de Castro, levando em consideração a aplicação das
técnicas do teatro de animação num ambiente que não proporcionava condições
favoráveis para seu desenvolvimento. Considerei, em minha experiência, a importância
de se trabalhar com a arte milenar dos bonecos, por perceber a dificuldade
dos estudantes em se expressarem artisticamente, em seu primeiro contato com o
teatro, por isso, direcionei meu conhecimento, na maioria das aulas, para o
teatro de animação em que os personagens são representados por objetos inanimados
e não o próprio ator. Claro que quem manipula o objeto acaba, por fazer parte
da representação, mas isso ocorre de forma não perceptível, ou seja, quando o
estudante se percebe na cena, ele já está envolvido.
O
presente relato inicia-se com uma breve apresentação da escola e da realidade
dos alunos. Sigo descrevendo o processo das aulas e as dificuldades encontradas
no percurso. Aponto ainda, algumas considerações sobre a modalidade de teatro
de bonecos abordadas por alguns autores, os quais utilizei como referência para minhas aulas.
VANDY DE
CASTRO
A Escola
Estadual Profª. Vandy de Castro, com 18 (dezoito anos) localiza-se na Vila Maria Luiza, em Goiânia, o
bairro, que de acordo com o noticiário local, Vasco,dm2012, p2 foi considerado em 2012 como uns dos mais violentos de Goiânia. É uma localidade de grande tráfico de drogas entre os jovens. Ainda
de acordo com a informação, a maioria dos estudantes foram considerados de
baixa renda, os pais são em sua maioria ausentes na escola, consequentemente,
da vida escolar de seus filhos.
Nessa
unidade escolar que foi ministrada a oficina de teatro de bonecos. A escola
funciona no modelo de reagrupamento[2] onde os
alunos escolhem as oficinas que desejam participar. A oficina foi realizada no
ano de 2012, com duração de onze meses. Estimou-se a participação de 300 alunos
do ensino médio e fundamental. Foi trabalhado teatro em todas as salas de aula,
do 1ª ano com crianças de 5 (cinco) anos ao 9ª
ano com jovens de até 18
(dezoito) anos.
A escola
se enquadra no modelo[3] de tempo
integral conveniada com a Fundação Jaime Câmera[4]. As
aulas de teatro aconteciam no vespertino e no mesmo período, haviam, em
paralelo as aulas de dança, capoeira,
xadrez e música, ou seja, os alunos tinham o contato com as diversas linguagens
artísticas oferecidas pela escola.
As aulas
de teatro tinham seu foco direcionado para o trabalho com vivências em sala de
aula, não especificamente voltadas para apresentações de espetáculo na escola. O objetivo das vivências e das experimentações
era para ampliar o desenvolvimento expressivo dos alunos a partir do teatro de
animação, mas a gestora da escola obrigava os professores a produzirem apresentações
para as datas comemorativas. Sempre tive dificuldade em obrigar os alunos a produzirem
um trabalho artístico de forma mecânica e instrumental, sempre porque não
consiguo conceber a arte desta maneira.
Ao longo da
história da humanidade, os bonecos eram utilizados como objetos mágicos,
elementos de poder que serviam para canalizar os medos, e situações de difíceis
comodidades e nesta pespectiva achei mais interessante iniciar o trabalho com
construção de personagens, improvisando com objetos mais próximos do aluno
como: régua, lápis, caneta, bolsinha. Eles montavam a história sem compromisso
de mostrar para alguém, mas sempre era sugerido no final da aula que pelo menos
um grupo mostrasse o resultado, como forma de todos analisarem o que foi
produzido.
Ainda
dialogando sobre o contexto dos bonecos, com o
desenvolvimento das civilizações a utilização destes foi sendo percebida sob
novas perspectivas e a questão mística desse objeto foi aos poucos se diluindo.
Segundo Ana Maria Amaral (1997) o teatro de animação trata do inanimado, que se
configura como um teatro onde o foco de atenção é dirigido para um objeto
inanimado e não para o ser vivo ator. De acordo com as considerações da Cia.
Stromboli, podemos refletir como ocorre a teatralização do simples ato de
brincar.
Uma menina que brinca com
sua boneca como se fosse um bebê de verdade não está fazendo um espetáculo de
bonecos. Mas se ela colocar os pais, irmãos ou amigos sentados como uma platéia
e fizer a boneca andar pela beirada da mesa, agindo como um bebê de verdade,
então estará apresentando uma forma do teatro de animação. (2010, Cepetin)
Quando
tentamos analisar as reações das pessoas, de qualquer idade, diante de um
espetáculo de bonecos, ficamos perplexos diante da diversidade de sentimentos,
reações que emergem. Dessa forma, entendemos que no teatro de formas animadas,
assim como nas outras atividades teatrais, a relação palco-plateia é essencial
na configuração desse teatro, na comunicação e na troca semiótica. Essa relação
palco e platéia foi bastante estimuladas nas aulas. Sempre após cada
apresentação das cenas improvisadas, os grupos que assistiam eram convidados a
opinarem nas cenas dos demais grupos. Em uma das apresentações ocorreu um fato
curioso, um aluno começou a interferir na cena do outro grupo que acabou por
mudar o rumo da improvisação e o um dos integrantes mostrou-se incomodado e recuou-se
em sua exposição. O que ocasionou uma intensa discussão, com questionamentos se
a plateia podia ou não interferir nas cenas. Na maioria das vezes eu pedia para
que não tecessem comentários durante as apresentações das cenas, que apenas
assistissem.
Mas no
início, todo esse processo foi bastante complicado devido a falta de disciplina
dos estudantes. Dessa forma, tive que chamar a atenção diversas vezes e ensinar
como devia ser o comportamento da platéia diante de uma apresentação cênica, ou
seja, fazer silêncio, prestar atenção, não levantar durante as apresentações,
dentre outras considerações. Mesmo assim, as intervenções como: gritos,
conversas paralelas, pedidos para sair da sala, celulares, etc... Nos momentos das
dramatizações ocorriam frequentemente. Outro fator que dificultou bastante essa
relação foi o intenso número de estudantes na sala.
De acordo
com a direção da escola, os professores aplicariam as aulas para os alunos que,
interessados, escolheram a oficina, uma estimativa de 15 alunos para cada professor, porém na realidade, com a falta de
muitos professores para completar o quadro do período vespertino, não acontecia
o reagrupamento, os professores, assim, eram submetidos a salas de aula com
excesso de alunos desinteressados e consequentemente, o planejamento prévio não
era executado e o aproveitamento das aulas deixavam muito a desejar.
A
coordenadora das oficinas era a professora do ensino fundamental que organizava
os horários e sugeria datas para as apresentações, mas, em sua maior parte, as
apresentações de teatro foram dentro das salas de aula, e para o público extra
ambiente escolar aconteceram apenas duas vezes. O primeiro trabalho apresentado
foi sem figurinos específicos, somente com as roupas normais, mas na segunda apresentação,
a coordenadora alugou alguns figurinos, o que valorizou mais a montagem. Nesse
trabalho, os atores não utilizaram a voz, foram apenas ações imagéticas; o
enredo da historia, abordava um acontecimento em uma grande cidade. Um casal
que levava seus dois filhos para escola, e, na rua, sempre ao parar no
sinaleiro tinha um personagem pedindo dinheiro, a mulher, ao deixar os filhos
na escola foi atacada por um bêbado, porém, um mendigo que estava passando a
salva, com isso a mulher, contente pelo ocorrido, pede dinheiro para o marido, para
gratificar o herói. O espaço da escola era muito restrito e os professores
tentavam adaptar-se nos diversos ambientes como: pátios, quadras, local a céu
aberto, dentre outros. Além disso, os estudantes eram obrigados a fazer pouco
barulho para não atrapalhar as outras salas.
No ano de
2012, trabalhei com cerca de 25
a 30 alunos em cada sala
de aula. O resultado da oficina de teatro de animação foi uma experiência
significativa, pois os alunos obtiveram, pelo desenvolvimento do teatro na escola,
a oportunidade de conhecer este universo e vivenciar as práticas teatrais tão
importantes para o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões.
Na escola havia
alguns bonecos de espuma guardados em uma sacola, em muitas aulas, tive a oportunidade
de utilizar estes objetos, eu sugeria para os estudantes pegarem os mesmos bonecos
que tinham trabalhado na aula anterior, os mais buscados eram os que tinham
articulações com a boca, e os personagens mais expressivos. Era interessante
observar que os estudantes do sexo masculino preferiam os lobos, caçadores, enquanto
as meninas sempre escolhiam bonecos de cabelos coloridos. Certa vez, levei alguns bonecos “dedotes” para os
estudantes do primeiro ano do ensino fundamental, e eles experimentaram a
manipulação de vários personagens, queriam trocar a todo o momento, outros
pegavam muitos bonecos para colocarem em todos os dedos, um deles pegou um
passarinho e caminhou por toda sala de aula fazendo-o bater as asas. Observando
a reação dele, pude perceber que a relação com lúdico e a brincadeira ainda
ocorria de forma lenta e tímida. Portanto, busquei trabalhar mais com o
imaginário espontâneo deles.
Os bonecos, de acordo com as pesquisas encontradas na idade média
(Costa,1992,p.17,) as bonecas eram condenadas ao fogo, às crianças não podiam
se aproximar desses pequenos tontens[5],
pois acreditavam que exerciam influência na vida e na morte das pessoas. Ainda
de acordo com Costa, esses objetos eram monopolizados pelos sacerdotes,
feiticeiros e curandeiros, muito ligados, nesse sentido à feitiçaria e ao ritual. Nesse período, as bonecas foram tão marcantes que
a sociedade medieval resolveu condenar os pequenos “bibelôs” às mesmas
fogueiras que ardiam as bruxas, elas representavam a simbologia da mitologia
pagã Greco-romana. Apesar de toda repressão religiosa, o teatro de marionetes[6]
conseguiu sobreviver, mas isso porque divertia o povo com representações de
parábolas, mas que não deixava de ter cunho educativo. Nas aulas de teatro,
busquei proporcionar aos estudantes o conhecimento e a proximidade da
representação com as formas animadas, levando-os a entender sua origem e sua
contextualização com sua realidade. Certo dia um aluno que nunca prestou
atenção disse “_ Hoje a aula foi a melhor, gostei dos bonecos” fiquei surpresso
foi o único dia que ele trabalhou.
Podemos
apontar como ponto negativo na exigência escolar, a obrigatoriedade da
participação dos alunos que não tinham interesse pelo teatro, o que ocasionava
um transtorno, pois alguns atrapalhavam as aulas e se negavam a fazer as
atividades propostas.
De acordo
com Stravinsky[7]
apud Emile Miachon (1920) aponta “que a finalidade da arte é provocar uma
reação emotiva, não exprimi-la”. De fato, a experimentação no teatro deve
ocorrer de forma lúdica e prazerosa para que a imaginação e a criatividade
fluam de forma a envolver o
participante em sua
totalidade.
Minha
formação superior em teatro de animação e objetos, deu-se pela Universidad de
San Martin[8], e minha
primeira experiência com o ensino do teatro na matriz curricular se deu na Escola
Estadual Profª Vandy de Castro. Apesar das instituições universitárias
oferecerem um processo de aprendizado e de iniciação profissional dentro de um
ambiente escolar, pude perceber, em minha prática, nessa escola, que as
instituições de ensino superior não subsidiam o discente na realidade da sala
de aula, especialmente em se tratando de escolas públicas. A inexperiência,
nesse sentido, foi um agravante nos momentos de desequilíbrio e de falta de
habilidade técnica para conduzir e solucionar situações inesperadas. Mas,
analisando pelo lado positivo, posso acrescentar que passei a perceber que meu
papel como professor era o
de criador de técnicas
e metodologias de trabalho. Percebi
ainda que antes de trabalhar as técnicas do teatro de animação, precisaria adquirir
técnicas de domínio do espaço escolar e dos alunos para que o aproveitamento
fosse o máximo possível. Dessa forma, percebi que o professor está em contínua
formação e que ele aprende com suas próprias práticas.
Para o desenvolvimento
do estudante em sua amplitude, ele precisa ter consciência do seu próprio corpo
e perceber-se enquanto indivíduo na relação com outros seres e, para entender o
universo das formas animadas,
foi relevante abordar os
elementos constituintes desse teatro, e seus subgêneros identificados com
diferentes nomes: teatro de formas, de objetos, teatro visual, de sombras,
fantoches, etc. Essa mistura de linguagens, técnicas e experimentações no
teatro de bonecos abrem uma diversificada gama de teatro de animação que se
subdividem em: marionete, teatro de luvas, bonecos de vara, marotes e dedoches,
entre outros, porém não nos deteremos no estudo destes elementos, pois o foco
de nossas reflexões centra-se em como se desenvolveu o ensino por meio do
teatro de animação na Escola Estadual Vandy de Castro, na qual desenvolvemos
apenas algumas dessas variações como: com
objetos inanimados, bonecos de bocão construidos com espuma, personagens feitos
de crochê (dedoches) com imagens de animais, jacaré, passarinho, macaco. Com
esses personagens, os estudantes criaram textos com inicio meio e fim, que
posteriormente continuavam o trabalho de
memorização e manipulação dos dedoches, ao final das experimentações, houveram
as apresentações para a turma.
Nos
trabalhos corporais, os estudantes iniciaram pesquisas de movimentos com a
utilização de objetos. Um exercício bastante utilizado foi o “exercício do
barbante” onde os atores estudantes, com um pedaço de barbante, construíam imagens,
para posteriormente, com duas ou mais pessoas montar várias imagens que
dialogavam com a anterior, produzindo figuras e símbolos que comunicavam e
expressavam diversos signos para a platéia. Esse jogo também funcionava como um
meio de interação e socialização entre os participantes. Essas foram as
primeiras experimentações com o teatro de formas animadas no contexto escolar
desses alunos. Busquei propor exercícios de
interação e auto conhecimento. Em uma das aulas iniciamos afastando as carteiras
e fazendo movimentos livres pelo espaço para que os alunos se sentissem mais a
vontade. Seguimos, dividindo a turma em duas fileiras, onde cada um se
levantava, dizia o nome e relatava o que mais gostava de fazer. Nessa atividade
de apresentação, percebi que muitos se sentiram envergonhados com a exposição
oral, até mesmo os mais espontâneos. Os estudantes mais tímidos tinham a
liberdade de desenvolver a atividade no tempo deles. Continuamos o trabalho com
alongamento dos braços, da cabeça e de todo o corpo, explanei sobre a
importância do trabalho de corpo para o ator. Pedi para abrirem a boca,
simularem espirros, mexer o nariz e as articulações, dentre outros.
Dando seqüência, solicitei que, um de frente para o outro fizessem o
jogo do espelho, o que um fizesse o outro acompanharia, depois se trocava o
condutor dos movimentos. Em seguida foi proposto que um manipularia o outro,
como se esse último fosse um boneco. Em seguida, pedi para retirarem uma folha
de caderno e passo a passo construímos juntos bonecos de papel, muitos pintaram
e colocaram olhos em proporção tridimensional, outros só construíram bigodes,
cabelos. Não foi possível finalizar o trabalho em apenas uma aula devido às
dificuldades de cada estudante em relação ao trabalho manual.
No 7ª ano fiz uma explanação
sobre o teatro de sombras, fazendo uma demonstração com as mãos, depois os
estudantes experimentaram algumas imagens com sombras. Mostrei um vídeo que se
chama “Shadow Hand Amazing” sobre a
projeção de sombras. Falei um pouco sobre a luz, os efeitos que provoca no
espaço e a importância da iluminação no teatro de sombras. Foi a parte que os
estudantes se mostraram bastante empolgados, faziam perguntas como:
_ Que jeito coloco as mãos para fazer um coelho? Por que se afastar da
luz a sombra fica menor? Um dia chegou uma professora que
cuidava de dois irmãos gêmeos com dificuldades de aprendizado e falou admirada
“_ Nossa! Os irmãos gêmeos estão brincando com a sombra do sol fazendo os
animais” enquanto outros, não se interessaram e muitos
ficavam pertubando os que estavam participando. Muitos, após a aula brincaram
de projetar sombras pelas paredes da escola.
Em outra aula com a mesma turma,
fizemos um círculo, busquei outras formas de explorar o corpo, utilizando uma
corda que era amarrada a certa altura. Instrui para os estudantes buscarem
várias formas de passar por baixo da corda: _ Passem lentamente. _ Agora de
costas. _ Passem rastejando e depois rolando. _ Movimentem as diversas partes do corpo. _ Agora vocês terão
que passar pela corda segurando um balão e trabalhando os níveis alto, médio e
baixo sem deixá-lo cair. Após esse aquecimento iniciamos o trabalho de
construção de bonecos feitos de papel machê e demos início ao trabalho de
manipulação onde eles experimentaram a manipular os seus bonecos tentando
repetir os movimentos que desenvolveram na atividade de aquecimento. Um grupo
de estudantes queria apresentar para a escola, mas isso não foi possível, pois a escola não
proporcionou essa abertura, assim, as apresentações
ocorreram dentro da sala. No momento da avaliação, boa parte relatou que
gostaram da experiência, alguns não se manifestaram, outros acharam o trabalho
com bonecos chato e cansativo.
Trabalhar
com teatro de bonecos na escola Estadual Profª Vandy de Castro foi uma idéia
que veio de encontro às atuais situações espaciais da escola, pois, como não
havia sala apropriada, os estudantes precisavam ser deslocados de um lugar para
outro, no translado dos alunos, alguns elementos do teatro já eram trabalhados,
pois nesse percurso, os estudantes já desenvolviam habilidades como: percepção
do espaço e identificação com os objetos, o que causava um efeito hipnótico
neles, quando colocava em
fila. Para ir para o outro espaço, ao meu comando fazíamos
cenas: caminhando com uma perna, _ Agora com a boca aberta e o braço direito
levantando, _ todos tristes, _ alegres, _ com o rosto disfigurado, _ Observem o
corpo do colega, _ Quem somos? Trabalhavam assim, sob a minha orientação, a
atenção e a observação. Estes elementos percebidos eram dialogados e eles utilizavam
as informações colhidas nas atividades de expressão, no trabalho de sensações e
na confecção dos objetos cênicos.
Além de
todas as questões acima relatadas, foram vivenciadas dificuldades de realizar o
trabalho por questões de precariedade de recursos financeiros e materiais. Por
escolher trabalhar com teatro de bonecos, necessitava-se de material adequado
como: fita crepe, durex, cola branca, papéis, cartolinas, tecidos, etc, dessa
forma, no entanto, experimentei trabalhar com materiais reciclados, porém, como
o tempo era muito escasso e, devido as dificuldades com a questão do horário,
sair à rua para colher materiais era impossível. A solução encontrada foi pedir
para que levassem papelões e outros materiais de casa. Poucos levaram, por esse
motivo e pela falta de compromisso dos estudantes, optei por, fazer uma
exposição teórica dos conhecimentos, das técnicas de manipulação.
Os
trabalhos feitos manualmente em sala de aula, pelos estudantes, eram guardados
na própria escola, geralmente em lugares desapropriados, pois, sempre que eram
levados para casa, dificilmente retornavam. Infelizmente algumas vezes me
surpreendia com o sumiço ou estrago dos objetos criados, como pode ser
observado na imagem abaixo.
Boneco de
papel machê e cano de PVC com materiais levados pelo professor de teatro,
encontrado na escola, totalmente destruído. (Arquivo pessoal de Marcos Marrom)
O fato de
encontrar o resultado do trabalho, nesse estado foi muito desestimulante. Além desses agravantes, tínhamos pouco tempo
para planejamento e estabelecíamos uma comunicação restrita e pouco diálogo, o
que tornavam as interações entre as oficinas artísticas pouco realizadas.
Na maioria
das aulas foram trabalhadas a preparação corporal, vocal, exercícios físicos e de
expressão para o trabalho com bonecos. Os estudantes se identificaram muito com
os jogos de correr, levar o seu colega nas costas, carrinho de mão, correr de
costas, puxar corda, andar com as pontas dos pés, rolar no chão. Quando os estudantes
estavam muito agitados e o corpo já estava cansado eu pedia para que deitassem
e fechassem os olhos e imaginassem as cenas da historia que eu contava. Houve
quem conversasse, ou ficasse inquieto; houveram risos e desconcentração, mas
também pude perceber que alguns ficaram bastante concentrados. Esses relataram
posteriormente os lugares que tinham imaginado e interagiram bastante. Este
trabalho pôde desenvolver a coordenação motora, a percepção do espaço, do tempo
e da organização entre eles.
Somente no
final do semestre, a escola optou por colocar dois professores dentro da mesma
sala de aula, assim, foi menos desgastante, observei que houve mais
produtividade. No 5º ano os estudantes de 10 a 11 anos tinham um comportamento
diferenciado em relação às atividades. Na imagem abaixo observamos uma aluna
com o seu trabalho concluído.
Estudante do 5ª ano da escola Vandy de Castro em sua
dramatização (Arquivo individual de Marcos Marrom)
A proposta era fazer personagens de “dedo
animado” em que, estabelecia relações do objeto desenhado com sua vida fora da
escola, para a construção da história que era encenada para os demais
participantes. Os alunos que não estavam apresentando, eram convidados a
observarem os outros e anotarem os pontos marcantes da história dramatizada.
As
características dos personagens, dos bonecos, das cores, da forma de falar, do
tamanho, do movimento, do caminhar, da voz e dos detalhes que consideravam mais
marcantes. Esses registros eram entregues no final da aula, como forma de avaliação.
A metodologia de ensino incluiu
trabalhos com balões: na construção de imagens, figuras e formas. Os estudantes
desenvolviam nas atividades de grupo, suas capacidades de construção e
improvisação em conjunto e consequentemente, aprendiam a respeitar os colegas
que sugeriam idéias. Após a criação das
imagens, eles colocavam ritmos e movimentos coreográficos, transformando-as em
cenas teatrais. Ao final das apresentações e das aulas práticas, os estudantes
eram orientados a registrarem suas vivências em forma de relatório, para
memorizarem e assimilarem o conhecimento. Os resultados da construção dramatúrgica,
constituídos por imagens sem texto e sem fala eram apresentados nas outras
salas. Quem assistia aparentava surpreso pois estavam vendo
seus colegas desempenhando bem o que foi solicitado. Isso repercutiu por que
quando eu retornava à mesma sala de aula, quem não tinha participado, vinha pedir
para apresentar também e que tinha gostado muito, em maioria eram as meninas. No entanto, sempre optei por desenvolver cenas sem fala,
devido a dificuldades dos alunos com a linguagem oral, pois o desenvolvimento
da expressão vocal ainda era precário.
Concluindo minhas reflexões a respeito do estudo do teatro de formas
animadas no contexto escolar, pude observar que, a aplicação dessa modalidade
apresentou muitas lacunas, devido às dificuldades acima relatadas, a falta de
estrutura e a pouca experiência do professor em questão. Porém , apesar da precariedade, os alunos apresentaram um
desenvolvimento significativo desde o início do trabalho com as formas animadas,
onde puderam aperfeiçoar o diálogo entre ele e o objeto (boneco) e entre a platéia,
além de poder perceber a importância da relação entre palavra e imagem. Assim,
acredito que é possível desenvolver uma prática pedagógica com as formas
animadas, mas entendendo que essa prática seria mais proveitosa se a
instituição de ensino proporcionasse melhores condições para seu
desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Ana
Maria.Teatro de Animação. Atelie
editorial,ano1997.
COSTA,
Cristiane. Bonecas história de
brincadeira. Super interessante, Rio de Janeiro, agosto,1992.
DELACROIX, Michael. Shadow
hands amazing, Youtube, disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=WVuV_xVDJDY.
Acessado em 12/08/2012
FUNDAÇÃO JAIME CÂMERA. Sobre a fundação Jaime Câmara. Disponível em: http://jaimecamara.blogspot.com.br/p/sobre-fundacao-jaime-camara.html.
Acessado em
03/05/2013.
MARCELO,Jota. JC Online,Uruaçu 02/02/2013 http://www.jotacidade.com/especiais/index.php?noticia_link=7
MIACHON, Emile. O teatro de bonecos nas escolas como
aprendizagem.disponível
em:http://www.acmlc.com.br/O_Teatro_de_Bonecos_nas_Escolas_Como_Aprendizagem.pdf.
Acessado em 20/04/2013.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Escola Estadual de Tempo Integral.Goiânia, 2011.
STRAMBOLI,
Cia. Breve história do teatro de bonecos.
Rio de Janeiro. Disponível em http://www.cepetin.com.br/index.php?page=artigos_texto&artigo_texto=59.
Acessado no dia 10/09/2013 às 22h55min.
VASCO,
Gilson. Exclusivo:agora a polícia já
sabe quais sãos os bairros mais violentos de Goiania! DIARIO DA MANHÃ,
Goiânia, cidade pg.2. Disponível em: htt://dm.com.br/texto/90760.Acessado em 03/02/2013
ás 20h33.
[1] Conhecido como Marcos
Marrom, diretor da Cia. Teatro do Maleiro formas animadas y títeres, formado no
curso superior de teatro de animação e
objetos pela universidade San Martin Buenos Aires Argentina, graduando em
letras pela faculdade UNIFAN em Aparecida de Goiânia, trabalha no Ciranda da
Arte, bonequeiro, documentarista e professor da escola Vandy de Castro em
2012, htt://teatrodomaleiro.blogspot.com
[2] Significado da palavra
reagrupamento está no ato ou efeito de reagrupar, novo agrupamento, Sit.(http://www.dicionarioinformal.com.br/reagrupamento/).
O modelo foi criado pela Secretaria da Educação do Estado de Goiás, onde os
alunos no período matutino assistem as aulas da matriz curricular: portugês,matemática, etc. No
turno vespertino acontecem as aulas de
artes denominadas de oficinas, em que o aluno tem a oportunidade de escolher as
quais desejar.
[3] Desenvolvido pela Fundação Jaime Câmera desde 2000
como complemento ao ensino regular gratuitamente aos estudantes de 6 a 14 anos. Em tempo integral significa que o turno que era de
quatro horas hoje é praticado em um turno de dez horas. Os professores
permanecem nas escolas nessas dez horas, com gratificação de permanência.
[4] Fundação Jaime
Câmara opera como coordenadora e executora dos programas e projetos por
ela propostos com a parceria de instituições governamentais e não
governamentais.
[5] São
esculturas feitas por índios, ”Os totens também estão ligados à transformação
de animais em pessoas e vice-versa, representando um ancestral que possuía esse
tipo de habilidade”, explica Pedro Paulo Funari, arqueólogo o e professor do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Para algumas tribos, os totens servem para
registrar a história de um grupo – considerado um símbolo de
identidadade; para outras, são objetos de culto em cerimônias religiosas e
sociais, que incluem a troca de presentes entre líderes indígenas
[6] O
teatro de marionetes surgiu na França durante a Idade Média, as marionetes eram
chamadas de marion, um diminutivo para o nome próprio Maria. São bonecos
manipulados por fios. Os itens que formam uma marionete são: fios de manipulação
e o comando, ou cruzeta, que é por onde o marionetista controla os movimentos.
formação em teatro de
Títeres e Objetos passou a ser parte da proposta educativa das artes da
universidad de San Martin, primeira universidade da América latina que oferece
o curso de teatro de bonecos com duração de 3 anos.
Comentários
Postar um comentário