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AS FORMAS ANIMADAS NO MUNDO ESCOLAR


AS FORMAS ANIMADAS NO MUNDO ESCOLAR

Marcos Marrom da Silva Santana[1]
local de pesquisa: Escola Estadual Profª Vandy de Castro
teatrodomaleiro@gmail.com



RESUMO

 A pesquisa aqui apresentada trata-se de um estudo direcionado para os aspectos observados durante a vivência com teatro de bonecos na Escola Estadual de tempo integral profª.Vandy de Castro situada em Goiânia. A pesquisa procura descrever de forma analítica, os processos criativos sob o ponto de vista de observação da reação dos estudantes mediante as ações no teatro de animação. O teatro de formas animadas é uma arte que tem se desenvolvido bastante, por isso, a pesquisa está direcionada a essa prática conhecida, mas pouco explorada ou aprofundada no ambiente escolar. Desta forma a pesquisa tem seu foco nos resultados das experimentações cênicas desenvolvidas e vivenciadas com os estudantes de oficina de teatro. São apontados e avaliados os elementos pertencentes ao universo da tradição desta arte, dramaturgia, construção, espaço e o público. Por último, são tecidas as considerações observadas em relação ao aprendizado resultante da prática do teatro de formas animadas, levando em consideração as técnicas de manipulação e produção de objetos cênicos.

PALAVRAS –CHAVE: Teatro de Bonecos - formas animadas – escola - professores.

“O homem está no menino, só que ele não sabe”.
O menino está no homem, só que ele esqueceu.”
Ziraldo

No presente artigo faço uma abordagem de minha prática como professor de teatro na Escola Estadual Profª Vandy de Castro, levando em consideração a aplicação das técnicas do teatro de animação num ambiente que não proporcionava condições favoráveis para seu desenvolvimento. Considerei, em minha experiência, a importância
de se trabalhar com a arte milenar dos bonecos, por perceber a dificuldade dos estudantes em se expressarem artisticamente, em seu primeiro contato com o teatro, por isso, direcionei meu conhecimento, na maioria das aulas, para o teatro de animação em que os personagens são representados por objetos inanimados e não o próprio ator. Claro que quem manipula o objeto acaba, por fazer parte da representação, mas isso ocorre de forma não perceptível, ou seja, quando o estudante se percebe na cena, ele já está envolvido.  
O presente relato inicia-se com uma breve apresentação da escola e da realidade dos alunos. Sigo descrevendo o processo das aulas e as dificuldades encontradas no percurso. Aponto ainda, algumas considerações sobre a modalidade de teatro de bonecos abordadas por alguns autores, os quais utilizei como referência para minhas aulas.

VANDY DE CASTRO

A Escola Estadual Profª. Vandy de Castro, com 18 (dezoito anos) localiza-se na Vila Maria Luiza, em Goiânia, o bairro, que de acordo com o noticiário local, Vasco,dm2012, p2 foi considerado em 2012 como uns dos mais  violentos de Goiânia. É uma localidade de grande tráfico de drogas entre os jovens. Ainda de acordo com a informação, a maioria dos estudantes foram considerados de baixa renda, os pais são em sua maioria ausentes na escola, consequentemente, da vida escolar de seus filhos.
Nessa unidade escolar que foi ministrada a oficina de teatro de bonecos. A escola funciona no modelo de reagrupamento[2] onde os alunos escolhem as oficinas que desejam participar. A oficina foi realizada no ano de 2012, com duração de onze meses. Estimou-se a participação de 300 alunos do ensino médio e fundamental. Foi trabalhado teatro em todas as salas de aula, do 1ª ano com crianças de 5 (cinco) anos ao 9ª  ano com  jovens de até 18 (dezoito) anos.
A escola se enquadra no modelo[3] de tempo integral conveniada com a Fundação Jaime Câmera[4]. As aulas de teatro aconteciam no vespertino e no mesmo período, haviam, em paralelo as aulas de  dança, capoeira, xadrez e música, ou seja, os alunos tinham o contato com as diversas linguagens artísticas oferecidas pela escola.
As aulas de teatro tinham seu foco direcionado para o trabalho com vivências em sala de aula, não especificamente voltadas para apresentações de espetáculo na escola.  O objetivo das vivências e das experimentações era para ampliar o desenvolvimento expressivo dos alunos a partir do teatro de animação, mas a gestora da escola obrigava os professores a produzirem apresentações para as datas comemorativas. Sempre tive dificuldade em obrigar os alunos a produzirem um trabalho artístico de forma mecânica e instrumental, sempre porque não consiguo conceber a arte desta maneira.
 Ao longo da história da humanidade, os bonecos eram utilizados como objetos mágicos, elementos de poder que serviam para canalizar os medos, e situações de difíceis comodidades e nesta pespectiva achei mais interessante iniciar o trabalho com construção de personagens, improvisando com objetos mais próximos do aluno como: régua, lápis, caneta, bolsinha. Eles montavam a história sem compromisso de mostrar para alguém, mas sempre era sugerido no final da aula que pelo menos um grupo mostrasse o resultado, como forma de todos analisarem o que foi produzido.
Ainda dialogando sobre o contexto dos bonecos, com o desenvolvimento das civilizações a utilização destes foi sendo percebida sob novas perspectivas e a questão mística desse objeto foi aos poucos se diluindo. Segundo Ana Maria Amaral (1997) o teatro de animação trata do inanimado, que se configura como um teatro onde o foco de atenção é dirigido para um objeto inanimado e não para o ser vivo ator. De acordo com as considerações da Cia. Stromboli, podemos refletir como ocorre a teatralização do simples ato de brincar.

Uma menina que brinca com sua boneca como se fosse um bebê de verdade não está fazendo um espetáculo de bonecos. Mas se ela colocar os pais, irmãos ou amigos sentados como uma platéia e fizer a boneca andar pela beirada da mesa, agindo como um bebê de verdade, então estará apresentando uma forma do teatro de animação. (2010, Cepetin)

Quando tentamos analisar as reações das pessoas, de qualquer idade, diante de um espetáculo de bonecos, ficamos perplexos diante da diversidade de sentimentos, reações que emergem. Dessa forma, entendemos que no teatro de formas animadas, assim como nas outras atividades teatrais, a relação palco-plateia é essencial na configuração desse teatro, na comunicação e na troca semiótica. Essa relação palco e platéia foi bastante estimuladas nas aulas. Sempre após cada apresentação das cenas improvisadas, os grupos que assistiam eram convidados a opinarem nas cenas dos demais grupos. Em uma das apresentações ocorreu um fato curioso, um aluno começou a interferir na cena do outro grupo que acabou por mudar o rumo da improvisação e o um dos integrantes mostrou-se incomodado e recuou-se em sua exposição. O que ocasionou uma intensa discussão, com questionamentos se a plateia podia ou não interferir nas cenas. Na maioria das vezes eu pedia para que não tecessem comentários durante as apresentações das cenas, que apenas assistissem.
Mas no início, todo esse processo foi bastante complicado devido a falta de disciplina dos estudantes. Dessa forma, tive que chamar a atenção diversas vezes e ensinar como devia ser o comportamento da platéia diante de uma apresentação cênica, ou seja, fazer silêncio, prestar atenção, não levantar durante as apresentações, dentre outras considerações. Mesmo assim, as intervenções como: gritos, conversas paralelas, pedidos para sair da sala, celulares, etc... Nos momentos das dramatizações ocorriam frequentemente. Outro fator que dificultou bastante essa relação foi o intenso número de estudantes na sala.
De acordo com a direção da escola, os professores aplicariam as aulas para os alunos que, interessados, escolheram a oficina, uma estimativa de 15 alunos para cada professor, porém na realidade, com a falta de muitos professores para completar o quadro do período vespertino, não acontecia o reagrupamento, os professores, assim, eram submetidos a salas de aula com excesso de alunos desinteressados e consequentemente, o planejamento prévio não era executado e o aproveitamento das aulas deixavam muito a desejar.
A coordenadora das oficinas era a professora do ensino fundamental que organizava os horários e sugeria datas para as apresentações, mas, em sua maior parte, as apresentações de teatro foram dentro das salas de aula, e para o público extra ambiente escolar aconteceram apenas duas vezes. O primeiro trabalho apresentado foi sem figurinos específicos, somente com as roupas normais, mas na segunda apresentação, a coordenadora alugou alguns figurinos, o que valorizou mais a montagem. Nesse trabalho, os atores não utilizaram a voz, foram apenas ações imagéticas; o enredo da historia, abordava um acontecimento em uma grande cidade. Um casal que levava seus dois filhos para escola, e, na rua, sempre ao parar no sinaleiro tinha um personagem pedindo dinheiro, a mulher, ao deixar os filhos na escola foi atacada por um bêbado, porém, um mendigo que estava passando a salva, com isso a mulher, contente pelo ocorrido, pede dinheiro para o marido, para gratificar o herói. O espaço da escola era muito restrito e os professores tentavam adaptar-se nos diversos ambientes como: pátios, quadras, local a céu aberto, dentre outros. Além disso, os estudantes eram obrigados a fazer pouco barulho para não atrapalhar as outras salas.
No ano de 2012, trabalhei com cerca de 25 a 30 alunos em cada sala de aula. O resultado da oficina de teatro de animação foi uma experiência significativa, pois os alunos obtiveram, pelo desenvolvimento do teatro na escola, a oportunidade de conhecer este universo e vivenciar as práticas teatrais tão importantes para o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões.
Na escola havia alguns bonecos de espuma guardados em uma sacola, em muitas aulas, tive a oportunidade de utilizar estes objetos, eu sugeria para os estudantes pegarem os mesmos bonecos que tinham trabalhado na aula anterior, os mais buscados eram os que tinham articulações com a boca, e os personagens mais expressivos. Era interessante observar que os estudantes do sexo masculino preferiam os lobos, caçadores, enquanto as meninas sempre escolhiam bonecos de cabelos coloridos. Certa vez, levei alguns bonecos “dedotes” para os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental, e eles experimentaram a manipulação de vários personagens, queriam trocar a todo o momento, outros pegavam muitos bonecos para colocarem em todos os dedos, um deles pegou um passarinho e caminhou por toda sala de aula fazendo-o bater as asas. Observando a reação dele, pude perceber que a relação com lúdico e a brincadeira ainda ocorria de forma lenta e tímida. Portanto, busquei trabalhar mais com o imaginário espontâneo deles.
Os bonecos, de acordo com as pesquisas encontradas na idade média (Costa,1992,p.17,) as bonecas eram condenadas ao fogo, às crianças não podiam se aproximar desses pequenos tontens[5], pois acreditavam que exerciam influência na vida e na morte das pessoas. Ainda de acordo com Costa, esses objetos eram monopolizados pelos sacerdotes, feiticeiros e curandeiros, muito ligados, nesse sentido à feitiçaria e ao ritual. Nesse período, as bonecas foram tão marcantes que a sociedade medieval resolveu condenar os pequenos “bibelôs” às mesmas fogueiras que ardiam as bruxas, elas representavam a simbologia da mitologia pagã Greco-romana. Apesar de toda repressão religiosa, o teatro de marionetes[6] conseguiu sobreviver, mas isso porque divertia o povo com representações de parábolas, mas que não deixava de ter cunho educativo. Nas aulas de teatro, busquei proporcionar aos estudantes o conhecimento e a proximidade da representação com as formas animadas, levando-os a entender sua origem e sua contextualização com sua realidade. Certo dia um aluno que nunca prestou atenção disse “_ Hoje a aula foi a melhor, gostei dos bonecos” fiquei surpresso foi o único dia que ele trabalhou.
Podemos apontar como ponto negativo na exigência escolar, a obrigatoriedade da participação dos alunos que não tinham interesse pelo teatro, o que ocasionava um transtorno, pois alguns atrapalhavam as aulas e se negavam a fazer as atividades propostas.
De acordo com Stravinsky[7] apud Emile Miachon (1920) aponta “que a finalidade da arte é provocar uma reação emotiva, não exprimi-la”. De fato, a experimentação no teatro deve ocorrer de forma lúdica e prazerosa para que a imaginação e a criatividade fluam de forma a envolver o participante em sua totalidade.
Minha formação superior em teatro de animação e objetos, deu-se pela Universidad de San Martin[8], e minha primeira experiência com o ensino do teatro na matriz curricular se deu na Escola Estadual Profª Vandy de Castro. Apesar das instituições universitárias oferecerem um processo de aprendizado e de iniciação profissional dentro de um ambiente escolar, pude perceber, em minha prática, nessa escola, que as instituições de ensino superior não subsidiam o discente na realidade da sala de aula, especialmente em se tratando de escolas públicas. A inexperiência, nesse sentido, foi um agravante nos momentos de desequilíbrio e de falta de habilidade técnica para conduzir e solucionar situações inesperadas. Mas, analisando pelo lado positivo, posso acrescentar que passei a perceber que meu papel como professor era o de criador de técnicas e metodologias de trabalho. Percebi ainda que antes de trabalhar as técnicas do teatro de animação, precisaria adquirir técnicas de domínio do espaço escolar e dos alunos para que o aproveitamento fosse o máximo possível. Dessa forma, percebi que o professor está em contínua formação e que ele aprende com suas próprias práticas.
Para o desenvolvimento do estudante em sua amplitude, ele precisa ter consciência do seu próprio corpo e perceber-se enquanto indivíduo na relação com outros seres e, para entender o universo das formas animadas, foi relevante abordar os elementos constituintes desse teatro, e seus subgêneros identificados com diferentes nomes: teatro de formas, de objetos, teatro visual, de sombras, fantoches, etc. Essa mistura de linguagens, técnicas e experimentações no teatro de bonecos abrem uma diversificada gama de teatro de animação que se subdividem em: marionete, teatro de luvas, bonecos de vara, marotes e dedoches, entre outros, porém não nos deteremos no estudo destes elementos, pois o foco de nossas reflexões centra-se em como se desenvolveu o ensino por meio do teatro de animação na Escola Estadual Vandy de Castro, na qual desenvolvemos apenas algumas dessas variações como: com objetos inanimados, bonecos de bocão construidos com espuma, personagens feitos de crochê (dedoches) com imagens de animais, jacaré, passarinho, macaco. Com esses personagens, os estudantes criaram textos com inicio meio e fim, que posteriormente  continuavam o trabalho de memorização e manipulação dos dedoches, ao final das experimentações, houveram as apresentações para a turma.
Nos trabalhos corporais, os estudantes iniciaram pesquisas de movimentos com a utilização de objetos. Um exercício bastante utilizado foi o “exercício do barbante” onde os atores estudantes, com um pedaço de barbante, construíam imagens, para posteriormente, com duas ou mais pessoas montar várias imagens que dialogavam com a anterior, produzindo figuras e símbolos que comunicavam e expressavam diversos signos para a platéia. Esse jogo também funcionava como um meio de interação e socialização entre os participantes. Essas foram as primeiras experimentações com o teatro de formas animadas no contexto escolar desses alunos. Busquei propor exercícios de interação e auto conhecimento. Em uma das aulas iniciamos afastando as carteiras e fazendo movimentos livres pelo espaço para que os alunos se sentissem mais a vontade. Seguimos, dividindo a turma em duas fileiras, onde cada um se levantava, dizia o nome e relatava o que mais gostava de fazer. Nessa atividade de apresentação, percebi que muitos se sentiram envergonhados com a exposição oral, até mesmo os mais espontâneos. Os estudantes mais tímidos tinham a liberdade de desenvolver a atividade no tempo deles. Continuamos o trabalho com alongamento dos braços, da cabeça e de todo o corpo, explanei sobre a importância do trabalho de corpo para o ator. Pedi para abrirem a boca, simularem espirros, mexer o nariz e as articulações, dentre outros.
Dando seqüência, solicitei que, um de frente para o outro fizessem o jogo do espelho, o que um fizesse o outro acompanharia, depois se trocava o condutor dos movimentos. Em seguida foi proposto que um manipularia o outro, como se esse último fosse um boneco. Em seguida, pedi para retirarem uma folha de caderno e passo a passo construímos juntos bonecos de papel, muitos pintaram e colocaram olhos em proporção tridimensional, outros só construíram bigodes, cabelos. Não foi possível finalizar o trabalho em apenas uma aula devido às dificuldades de cada estudante em relação ao trabalho manual.
No 7ª ano fiz uma explanação sobre o teatro de sombras, fazendo uma demonstração com as mãos, depois os estudantes experimentaram algumas imagens com sombras. Mostrei um vídeo que se chama “Shadow Hand Amazing” sobre a projeção de sombras. Falei um pouco sobre a luz, os efeitos que provoca no espaço e a importância da iluminação no teatro de sombras. Foi a parte que os estudantes se mostraram bastante empolgados, faziam perguntas como:  _ Que jeito coloco as mãos para fazer um coelho? Por que se afastar da luz a sombra fica menor?  Um dia chegou uma professora que cuidava de dois irmãos gêmeos com dificuldades de aprendizado e falou admirada “_ Nossa! Os irmãos gêmeos estão brincando com a sombra do sol fazendo os animais” enquanto outros, não se interessaram e muitos ficavam pertubando os que estavam participando. Muitos, após a aula brincaram de projetar sombras pelas paredes da  escola.
Em outra aula com a mesma turma, fizemos um círculo, busquei outras formas de explorar o corpo, utilizando uma corda que era amarrada a certa altura. Instrui para os estudantes buscarem várias formas de passar por baixo da corda: _ Passem lentamente. _ Agora de costas. _ Passem rastejando e depois rolando. _ Movimentem as  diversas partes do corpo. _ Agora vocês terão que passar pela corda segurando um balão e trabalhando os níveis alto, médio e baixo sem deixá-lo cair. Após esse aquecimento iniciamos o trabalho de construção de bonecos feitos de papel machê e demos início ao trabalho de manipulação onde eles experimentaram a manipular os seus bonecos tentando repetir os movimentos que desenvolveram na atividade de aquecimento. Um grupo de estudantes queria apresentar para a escola, mas isso não foi possível, pois a escola não proporcionou essa abertura, assim, as apresentações ocorreram dentro da sala. No momento da avaliação, boa parte relatou que gostaram da experiência, alguns não se manifestaram, outros acharam o trabalho com bonecos chato e cansativo.
Trabalhar com teatro de bonecos na escola Estadual Profª Vandy de Castro foi uma idéia que veio de encontro às atuais situações espaciais da escola, pois, como não havia sala apropriada, os estudantes precisavam ser deslocados de um lugar para outro, no translado dos alunos, alguns elementos do teatro já eram trabalhados, pois nesse percurso, os estudantes já desenvolviam habilidades como: percepção do espaço e identificação com os objetos, o que causava um efeito hipnótico neles, quando colocava em fila. Para ir para o outro espaço, ao meu comando fazíamos cenas: caminhando com uma perna, _ Agora com a boca aberta e o braço direito levantando, _ todos tristes, _ alegres, _ com o rosto disfigurado, _ Observem o corpo do colega, _ Quem somos? Trabalhavam assim, sob a minha orientação, a atenção e a observação. Estes elementos percebidos eram dialogados e eles utilizavam as informações colhidas nas atividades de expressão, no trabalho de sensações e na confecção dos objetos cênicos.
Além de todas as questões acima relatadas, foram vivenciadas dificuldades de realizar o trabalho por questões de precariedade de recursos financeiros e materiais. Por escolher trabalhar com teatro de bonecos, necessitava-se de material adequado como: fita crepe, durex, cola branca, papéis, cartolinas, tecidos, etc, dessa forma, no entanto, experimentei trabalhar com materiais reciclados, porém, como o tempo era muito escasso e, devido as dificuldades com a questão do horário, sair à rua para colher materiais era impossível. A solução encontrada foi pedir para que levassem papelões e outros materiais de casa. Poucos levaram, por esse motivo e pela falta de compromisso dos estudantes, optei por, fazer uma exposição teórica dos conhecimentos, das técnicas de manipulação. 
Os trabalhos feitos manualmente em sala de aula, pelos estudantes, eram guardados na própria escola, geralmente em lugares desapropriados, pois, sempre que eram levados para casa, dificilmente retornavam. Infelizmente algumas vezes me surpreendia com o sumiço ou estrago dos objetos criados, como pode ser observado na imagem abaixo.


Boneco de papel machê e cano de PVC com materiais levados pelo professor de teatro, encontrado na escola, totalmente destruído. (Arquivo pessoal de Marcos Marrom)

O fato de encontrar o resultado do trabalho, nesse estado foi muito desestimulante.  Além desses agravantes, tínhamos pouco tempo para planejamento e estabelecíamos uma comunicação restrita e pouco diálogo, o que tornavam as interações entre as oficinas artísticas pouco realizadas.
Na maioria das aulas foram trabalhadas a preparação corporal, vocal, exercícios físicos e de expressão para o trabalho com bonecos. Os estudantes se identificaram muito com os jogos de correr, levar o seu colega nas costas, carrinho de mão, correr de costas, puxar corda, andar com as pontas dos pés, rolar no chão. Quando os estudantes estavam muito agitados e o corpo já estava cansado eu pedia para que deitassem e fechassem os olhos e imaginassem as cenas da historia que eu contava. Houve quem conversasse, ou ficasse inquieto; houveram risos e desconcentração, mas também pude perceber que alguns ficaram bastante concentrados. Esses relataram posteriormente os lugares que tinham imaginado e interagiram bastante. Este trabalho pôde desenvolver a coordenação motora, a percepção do espaço, do tempo e da organização entre eles.
Somente no final do semestre, a escola optou por colocar dois professores dentro da mesma sala de aula, assim, foi menos desgastante, observei que houve mais produtividade. No 5º ano os estudantes de 10 a 11 anos tinham um comportamento diferenciado em relação às atividades. Na imagem abaixo observamos uma aluna com o seu trabalho concluído.
Estudante do 5ª ano da escola Vandy de Castro em sua dramatização (Arquivo individual de Marcos Marrom)

A proposta era fazer personagens de “dedo animado” em que, estabelecia relações do objeto desenhado com sua vida fora da escola, para a construção da história que era encenada para os demais participantes. Os alunos que não estavam apresentando, eram convidados a observarem os outros e anotarem os pontos marcantes da história dramatizada.
As características dos personagens, dos bonecos, das cores, da forma de falar, do tamanho, do movimento, do caminhar, da voz e dos detalhes que consideravam mais marcantes. Esses registros eram entregues no final da aula, como forma de avaliação.
A metodologia de ensino incluiu trabalhos com balões: na construção de imagens, figuras e formas. Os estudantes desenvolviam nas atividades de grupo, suas capacidades de construção e improvisação em conjunto e consequentemente, aprendiam a respeitar os colegas que sugeriam idéias.  Após a criação das imagens, eles colocavam ritmos e movimentos coreográficos, transformando-as em cenas teatrais. Ao final das apresentações e das aulas práticas, os estudantes eram orientados a registrarem suas vivências em forma de relatório, para memorizarem e assimilarem o conhecimento. Os resultados da construção dramatúrgica, constituídos por imagens sem texto e sem fala eram apresentados nas outras salas. Quem assistia aparentava surpreso pois estavam vendo seus colegas desempenhando bem o que foi solicitado. Isso repercutiu por que quando eu retornava à mesma sala de aula, quem não tinha participado, vinha pedir para apresentar também e que tinha gostado muito, em maioria eram as meninas. No entanto, sempre optei por desenvolver cenas sem fala, devido a dificuldades dos alunos com a linguagem oral, pois o desenvolvimento da expressão vocal ainda era precário.
Concluindo minhas reflexões a respeito do estudo do teatro de formas animadas no contexto escolar, pude observar que, a aplicação dessa modalidade apresentou muitas lacunas, devido às dificuldades acima relatadas, a falta de estrutura e a pouca experiência do professor em questão. Porém, apesar da precariedade, os alunos apresentaram um desenvolvimento significativo desde o início do trabalho com as formas animadas, onde puderam aperfeiçoar o diálogo entre ele e o objeto (boneco) e entre a platéia, além de poder perceber a importância da relação entre palavra e imagem. Assim, acredito que é possível desenvolver uma prática pedagógica com as formas animadas, mas entendendo que essa prática seria mais proveitosa se a instituição de ensino proporcionasse melhores condições para seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Ana Maria.Teatro de Animação. Atelie editorial,ano1997.

COSTA, Cristiane. Bonecas história de brincadeira. Super interessante, Rio de Janeiro, agosto,1992.

DELACROIX, Michael. Shadow hands amazing, Youtube, disponível em 

FUNDAÇÃO JAIME CÂMERA. Sobre a fundação Jaime Câmara. Disponível em: http://jaimecamara.blogspot.com.br/p/sobre-fundacao-jaime-camara.html.
Acessado em  03/05/2013.

MARCELO,Jota. JC Online,Uruaçu 02/02/2013 http://www.jotacidade.com/especiais/index.php?noticia_link=7


MIACHON, Emile. O teatro de bonecos nas escolas como aprendizagem.disponível em:http://www.acmlc.com.br/O_Teatro_de_Bonecos_nas_Escolas_Como_Aprendizagem.pdf. Acessado em 20/04/2013.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Escola Estadual de Tempo Integral.Goiânia, 2011.

STRAMBOLI, Cia. Breve história do teatro de bonecos. Rio de Janeiro. Disponível em http://www.cepetin.com.br/index.php?page=artigos_texto&artigo_texto=59. Acessado no dia 10/09/2013 às 22h55min.

VASCO, Gilson. Exclusivo:agora a polícia já sabe quais sãos os bairros mais violentos de Goiania! DIARIO DA MANHÃ, Goiânia, cidade pg.2. Disponível em: htt://dm.com.br/texto/90760.Acessado em 03/02/2013 ás 20h33.






[1] Conhecido como Marcos Marrom, diretor da Cia. Teatro do Maleiro formas animadas y títeres, formado no curso  superior de teatro de animação e objetos pela universidade San Martin Buenos Aires Argentina, graduando em letras pela faculdade UNIFAN em Aparecida de Goiânia, trabalha no Ciranda da Arte, bonequeiro, documentarista e professor da escola Vandy de Castro em 2012,    htt://teatrodomaleiro.blogspot.com
[2] Significado da palavra reagrupamento está no ato ou efeito de reagrupar, novo agrupamento, Sit.(http://www.dicionarioinformal.com.br/reagrupamento/). O modelo foi criado pela Secretaria da Educação do Estado de Goiás, onde os alunos no período matutino assistem as aulas da matriz  curricular: portugês,matemática, etc. No turno vespertino acontecem as  aulas de artes denominadas de oficinas, em que o aluno tem a oportunidade de escolher as quais desejar.
[3] Desenvolvido pela Fundação Jaime Câmera desde 2000 como complemento ao ensino regular gratuitamente aos estudantes de 6 a 14 anos. Em tempo integral significa que o turno que era de quatro horas hoje é praticado em um turno de dez horas. Os professores permanecem nas escolas nessas dez horas, com gratificação de permanência.
[4] Fundação Jaime Câmara opera como coordenadora e executora dos programas e projetos por ela propostos com a parceria de instituições governamentais e não governamentais.
[5] São esculturas feitas por índios, ”Os totens também estão ligados à transformação de animais em pessoas e vice-versa, representando um ancestral que possuía esse tipo de habilidade”, explica Pedro Paulo Funari, arqueólogo o e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.  Para algumas tribos, os totens servem para registrar a história  de um grupo – considerado um símbolo de identidadade; para outras, são objetos de culto em cerimônias religiosas e sociais, que incluem a troca de presentes entre líderes indígenas

[6] O teatro de marionetes surgiu na França durante a Idade Média, as marionetes eram chamadas de marion, um diminutivo para o nome próprio Maria. São bonecos manipulados por fios. Os itens que formam uma marionete são: fios de manipulação e o comando, ou cruzeta, que é por onde o marionetista controla os movimentos.

[7] Stravinski foi uns dos mais importantes músicos do século XX, compositor de origem Russa.

[8] UNSAM Campus Miguelete, 25 de Mayo y Francia. (Argentina, Buenos Aires) A partir do ano 2010, a
formação em teatro de Títeres e Objetos passou a ser parte da proposta educativa das artes da universidad de San Martin, primeira universidade da América latina que oferece o curso de teatro de bonecos com duração de 3 anos.  

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